Mitos e verdades sobre Cisticercose na carne suína

Os primeiros escritos dos judeus, 300 anos antes de Cristo, proibiam, sob pena de prisão, a ingestão de carne de porco. Isto porque Aristothenes havia descrito a cisticercose nos suínos. É dessa época portanto, que remontam os conceitos errados de que o porco transmita esta doença ao homem. Moisés e Maomé contribuíram para a formação desse conceito, ao proibir o consumo de carne de porco na dieta humana, para evitar as parasitóses tão comuns já naquela época.

Um dos nomes mais famosos da história a sofrer o problema da cisticercose foi Joana D’Arc. Após ser queimada em praça pública, seu cérebro foi necropsiado e nele foram encontrados cisticercos calcificados, principalmente no lobo temporal, que seriam as causas de suas alucinações visuais.

O conceito errôneo de que a cisticercose é transmitida ao homem pelo consumo de carnes contaminadas (de suíno ou bovino) deve-se à falta de conhecimento, e de esclarecimento, sobre o ciclo de vida deste parasita. Para entender corretamente esta enfermidade, vamos expor a seguir o seu ciclo de vida, diferenciando o que é TENÍASE do que é CISTICERCOSE.

A Teníase é a doença causada por um parasita chamado de Taenia Solium no caso dos suínos , e Taenia Saginata no caso dos bovinos. As taenias precisam de dois hospedeiros para completar o seu ciclo evolutivo. Um é o Homem, que é o único hospedeiro definitivo da taenia (único a possuir a fase adulta do verme). O outro hospedeiro chamado de intermediário, pois nele só ocorre a fase larvar (cisticerco), podem ser os suínos, bovinos, carneiros, etc.

Ao comer carne crua ou mal passada dos suínos e bovinos, que contenha as larvas as taenia (cisticercos), o homem passa a desenvolver a doença chamada Teníase, também conhecida por “solitária”, porque geralmente é causada por uma taenia só. São conhecidos, porém, casos comprovados de até 9 taenias localizadas no intestino do mesmo ser humano. A teníase é uma doença que muitas vezes passa desapercebida. Em alguns casos pode haver vômitos, mal estar gástrico e gases, que são sintomas comuns a outras enfermidades. Três meses após a ingestão do cisticerco, a taenia já localizada no Intestino Delgado do homem, começa a soltar anéis de seu corpo, com ovos. Geralmente, elimina de 5 a 6 anéis por semana, sendo que cada anel contem de 40 a 80 mil ovos.

Os anéis podem sair com as fezes, ou se romper ainda dentro do Intestino, liberando os ovos, que são da mesma forma eliminados durante a defecação. No meio ambiente, estes ovos, dependendo da temperatura e umidade, podem continuar vivos por até 300 dias. A taenia pode viver até 8 anos ou mais no intestino do homem, contaminando seguidamente o meio ambiente onde caírem as suas fezes. Se houver esgotos apropriados, o problema praticamente desaparece. Acentua-se, porém, se a defecação for em local inadequado (campo, etc.).

As fezes se ressecam com o sol, os ovos ficam mais leves que o pó e são levados pelo vento a grandes distâncias. Dessa forma contamina as pastagens, hortas ou rios e lagoas, cujas águas podem ser utilizadas para beber ou irrigar plantações. Somente a fervura ou cocção acima de 90º centígrados é capaz de inativar o ovo, que é resistente à maioria dos produtos químicos. O homem com teníase, pode se auto contaminar com os ovos, ao não fazer corretamente a higiene após evacuar e levar as mãos à boca, ou praticando o sexo oral, já que os ovos podem permanecer na região perianal.

A Cisticercose é uma doença causada no hospedeiro intermediário pelas larvas da taenia. Os suínos, bovinos e o próprio homem, adquirem esta doença ao comer as verduras, frutas (morango), pastagens ou ingerir água, contaminados com ovos da taenia. Depois de ingeridos, os ovos vão para o estômago e o intestino delgado, onde os sucos gástricos e pancreáticos dissolvem a sua camada superficial, liberando os embriões. Este se fixa nas vilosidades intestinais, onde permanecem por quatro dias.

A seguir, perfuram a parede intestinal e caem nos vasos sangüíneos, sendo distribuídos pelo corpo todo. A grande maioria se fixa no cérebro, causando a chamada Neurocisticercose. É a forma mais grave, pois causa crises convulsivas, hipertensão craniana (dores de cabeça, vômitos, etc.) e hidrocefalia. Outras localizações além do Sistema Nervoso são o coração, olhos e músculo. No homem, as larvas calcificam-se rapidamente e os doentes podem, portanto, restabelecer-se dos sintomas, sem qualquer prejuízo. No suíno, a formação dos cisticercos no músculo é popularmente conhecida como “canjiquinha”, que algumas pessoas acreditam de forma errônea ser uma “virtude” da carne, por ser mais macia. Ao comer estas carnes, se elas não forem devidamente cozidas, o homem irá ingerir os cisticercos (larvas), que irão evoluir em seu intestino até a fase adulta, causando a teníase, completando assim o ciclo desse verme.

Pela descrição do ciclo de vida deste parasita, podemos concluir:

  • O suíno não causa a cisticercose no homem. O homem causa a cisticercose no suíno.
  • O suíno não é fonte de transmissão. Apenas participa do ciclo da doença que lhe é transmitida pelo homem, abrigando a fase larvar da taenia (cisticerco).
  • O homem adquire a Cisticercose ao ingerir frutas, verduras ou água contaminadas com fezes de pessoas portadoras de taenias.
  • O homem adquire a Taenia ao ingerir carne mal cozida de bovinos ou suínos com cisticercose. Em nenhuma hipótese ele terá cisticercose ao ingerir esta carne.
  • O homem é o hospedeiro definitivo, pois possui a fase adulta da Taenia.
  • O suíno e o bovino são hospedeiros intermediários, pois possuem a fase larvar da taenia (cisticerco) e não o verme adulto (taenia).
  • O homem contamina o meio ambiente (pastagens, verduras, águas, etc) através de suas fezes, liberando os ovos do parasita.

Se não houver pessoas com solitária (teníase), não haverá cisticercose nos suínos e bovinos.
Como os suínos se contaminam através da ingestão de fezes humanas ou de verduras contaminadas, com o advento da suinocultura moderna, onde os suínos são criados confinados e recebem apenas rações como alimento, a possibilidade de transmissão ficou mais difícil.

A contaminação, porém, permanece alta nos bovinos, que necessitam das pastagens e nos porcos criados soltos em suinoculturas de baixo padrão zootécnico e que geralmente são apenas para subsistência dos seus proprietários.

A crescente incidência de Cisticercose no Brasil está assustando as autoridades. O mesmo fenômeno ocorre em todo o mundo. Nos Estados Unidos era uma enfermidade rara há 15 anos atrás. Hoje, é a parasitóse mais freqüente do sistema nervoso. Este aumento da incidência deve-se à falta de tratamento dos esgotos urbanos, que poluem os mananciais aonde irão se abastecer os animais e até o próprio homem. A falta de fossas no meio rural contribui para a poluição do meio ambiente, sendo comuns os casos em que os animais acabam consumindo as fezes humanas. O uso de irrigação de hortas e de morangos com águas contaminadas tem sido, talvez, uma das principais fontes de infecção para o homem. No Paraná, um dos estados com maior incidência no Brasil, entre 1980 a 1993 a incidência de neurocisticercose aumentaram de 5,3% para 9,25% nos exames realizados. Em cidades como Guarapuava e Francisco Beltrão a incidência chega a 20%.

O controle desta enfermidade passa pelas seguintes medidas: tratamento do homem, que é o hospedeiro das taenias que produzem ovos, tratamento dos esgotos urbanos, para evitar que os ovos liberados com as fezes humanas contaminem os rios e as águas de bebida, inspeção e seqüestro das carcaças contaminadas com cisticercose nos abatedouros e tratamento da carne por cocção adequada. Para a área rural, também são importantes os programas educativos nas escolas, sindicatos rurais e cooperativas, para o ensino de medidas higiênicas básicas.

Suínos Transgênicos

Os melhoramentos genéticos que conhecemos atualmente foram obtidos através da seleção dos suínos de acordo com sua aparência, seu desempenho individual e a performance de seus pais, irmãos e descendentes. Com a evolução da informática, está sendo possível analisar um animal, com base nos dados de várias gerações (BLUP e EPD), diminuindo a margem de erro da avaliação. Recentemente, porém, com o desenvolvimento da chamada Genética Molecular, abriu-se uma nova fronteira na seleção dos suínos.

Entende-se por Genética Molecular, o trabalho com o DNA, que é o material genético presente dentro do núcleo de cada célula e de todos os animais vivos existentes em nosso meio. Cada animal leva um segmento de seu DNA dentro de estruturas chamadas de genes, que estão reunidos ao longo dos cromossomos das células. O suíno possui 19 pares de cromossomos. No momento da fecundação, cada leitão recebe 19 cromossomos de seu pai (através do espermatozóide) e da sua mãe (através do óvulo), formando os seus 19 pares que lhe darão sua característica individual. Sua aparência, características zootécnicas, etc. são determinadas pelos genes contido nos cromossomos, pois é neles que estão contidas as informações genéticas.

Estudando os cromossomos, os pesquisadores conseguiram identificar genes que são responsáveis por determinadas características zootécnicas, tais como, a prolificidade, cor da pele, espessura de toicinho, resistência à síndrome do stress (PSS) e à E. Coli. Pode-se dizer que os pesquisadores estão fazendo verdadeiros Mapas Genéticos, determinando o local de cada gene no cromossomo de cada espécie animal.

Uma das aplicações desses mapas genéticos é a produção de animais Transgênicos, que teriam o seu genoma alterado, através da transferência de um determinado gene selecionado, para dentro do seu cromossomo. Os genes transferidos podem ser de um suíno para outro, ou de uma espécie animal para outra. O que importa, é que depois de transferidos, esses genes passam a fazer parte do genoma do animal que o recebeu, sendo transferidos para as gerações seguintes. Sem dúvida, a formação de animais transgênicos é muito importante para a indústria, pois acelera os processos de seleção de forma inigualável diante dos nossos conhecimentos acumulados até hoje.

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